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Com o mercado de trabalho aquecido e com bastante demanda de mão de obra qualificada, a busca por profissionais ocorre não somente em bancos de vagas de empresas de recursos humanos, mas também entre os empregados das companhias. Assim, muitas pessoas acabam trocando de emprego após receberem propostas com salários atraentes e promessas de ascensão dentro das organizações.

Essa troca de empregos faz o Brasil apresentar alto índice de rotatividade. De acordo com pesquisa global da Robert Half realizada com 1.775 diretores de RH de 13 nacionalidades, o Brasil é o campeão mundial em rotatividade de funcionários. No país, o turnover de colaboradores aumentou em 82% desde 2010, mais que o dobro da média mundial, que foi de 38%.

Segundo o consultor em gestão de pessoas, Eduardo Ferraz, a rotatividade é grande por causa da enorme falta de mão de obra qualificada e da baixa taxa de desemprego. “Com isso as pessoas um pouco mais qualificadas trocam com muito mais frequência de emprego, seja para ganhar um pouco mais, morar mais perto de casa, ter horários mais flexíveis ou mais autonomia. Os mais qualificados, que normalmente têm tolerância mais baixa, estão ainda mais intolerantes e impacientes com situações que aceitariam melhor se houvesse alto desemprego”.

Ferraz aponta que as empresas estão com uma falta crônica de talentos há mais de cinco anos e se veem obrigadas a assediar pessoas empregadas com muito mais frequência do que gostariam. O consultor destaca, no entanto, que ficar mudando de emprego a todo momento pode ser prejudicial para a carreira, pois, além de perda de tempo e energia, desvaloriza o currículo, pois poderá dar a impressão de instabilidade. “Ter foco, conhecer bem suas habilidades e interesses e analisar os ganhos não só de curto, mas de médio e longo prazos, vai ajudar a analisar as diferentes propostas e saber se está na hora ou não de trocar de emprego”, diz.

G1 listou 10 fatores que são importantes na hora de avaliar uma proposta de emprego e ouviu a opinião de Luciana Tegon, sócia diretora da consultoria Tegon, empresa especializada em processos de seleção, Janaína Andrade, coordenadora de recrutamento e seleção da Talent Group, Eduardo Ferraz, consultor em gestão de pessoas e autor do livro “Seja a pessoa certa no lugar certo”, e Caio Infante, diretor-geral da Trabalhando.com. Veja abaixo.

Salário
Eduardo Ferraz: Vale estudar a mudança a partir de 30% de aumento real (incluindo bônus ou participação nos lucros garantidos nos primeiros dois anos), sem esquecer de levar em consideração outros aspectos.

Caio Infante: Sair para ganhar menos só se for para mudar para uma outra área em que o profissional sonhe em trabalhar. A regra dos 30% é válida, mas não em todos os casos. A oportunidade deve ser analisada como um todo, às vezes o aumento não é tão alto, mas as vantagens e benefícios valem muito a pena.

Janaína Andrade: Atualmente, não é apenas o salário oferecido que é levado em consideração no momento de decidir sobre trocar ou não de emprego. Os profissionais devem pesar também os benefícios, cargo, plano de carreira e desenvolvimento profissional e atividades que serão realizadas. Pode ser que você receba uma proposta para ganhar o dobro do que ganha atualmente, mas caso não seja para uma área que você goste, provavelmente não será o salário que te fará permanecer satisfeito na nova empresa.

Luciana Tegon: Não é só a remuneração que deve ser avaliada, mas também os benefícios, se há incentivo ao aprimoramento profissional através de cursos e especializações, se há oportunidade de intercâmbio com as outras sedes da empresa, se haverá upgrade na posição hierárquica, se há identificação com a cultura da empresa, tempo de deslocamento até o trabalho e o impacto positivo ou negativo na qualidade de vida.

Horário e feriados trabalhados
Eduardo Ferraz:
 Horas extras ou horários noturnos e finais de semana não valem nessa conta, pois normalmente já pagam acima de 30% com relação ao horário normal.

Caio Infante: Se for para trabalhar mais que no emprego atual, o aumento salarial deve ser levado em conta para ver se vale a pena assumir uma carga horária maior. Mudar totalmente de horário de trabalho é algo bem pessoal, e a rotina deve ser levada em conta nesse caso.

Janaína Andrade: Horário de trabalho com certeza é um dos quesitos avaliados pelos profissionais no momento de trocar de emprego, e isto deve ser levado em consideração por parte deles, principalmente porque buscam qualidade de vida. Caso o profissional tenha família, também é importante analisar se precisará trabalhar aos finais de semana ou em horários fora do horário comercial, impactando no convívio familiar. Horário flexível é um benefício importante que muitas empresas estão adotando, com o intuito de ser um benefício bastante atrativo para o profissional.

Luciana Tegon: Muitas vezes, vagas que exigem trabalho em turnos e escalas em feriados e finais de semana são melhor remuneradas, no entanto, há o sacrifício do lado pessoal, uma vez que deixará de estar com a família em ocasiões festivas. Aconselho sempre que o profissional discuta com a família essa possibilidade antes de assumir um novo emprego, pois um desligamento rápido de um emprego ficará registrado e renderá perguntas nos futuros processos seletivos.

Local de trabalho
Eduardo Ferraz: Costuma pesar tanto ou mais que o dinheiro. Se você gasta até uma hora para ir voltar do trabalho e no novo emprego gastará acima de duas horas, talvez não valha a pena a mudança se não houver outros fortes atrativos.

Caio Infante: É importante levar em conta a oportunidade em si, às vezes o local é longe, mas o emprego oferece mais oportunidades para crescer do que o atual. Mas não adianta mudar para um emprego só porque é perto de casa se a empresa não oferecer outros benefícios além do local.

Janaína Andrade: Devido à busca contínua por qualidade de vida, é imprescindível que o profissional pese todos os pontos antes de aceitar uma nova oportunidade. Se o trabalho novo é mais perto da sua casa, com certeza, será considerado um bônus. Itens como a distância, tempo de deslocamento e o trânsito devem ser considerados no momento de suas escolhas.

Luciana Tegon: Esse é um ponto que deve ser fortemente considerado pelo candidato ao avaliar uma vaga. Sempre sugiro que ele faça o percurso no horário de trabalho, seja de transporte público ou de carro, para ter exata noção de quanto tempo levará para seu deslocamento e após avalie friamente se estará disposto a realizar o percurso por no mínimo 3 anos.

Infeliz no emprego atual?
Eduardo Ferraz:
 Muita gente troca de emprego ganhando o mesmo e até menos por se sentir infeliz e sem perspectiva. É uma troca que pode valer a pena.

Caio Infante: Esse é um dos fatores que mais motivam o profissional a querer mudar de emprego, entretanto, alguns na euforia de ter recebido uma proposta não refletem se o atual emprego o realizam por completo e só descobrem quando trocaram de emprego.

Janaína Andrade: Caso o funcionário esteja insatisfeito com o seu trabalho atual, precisará fazer uma análise para avaliar se são realmente as suas atividades que o estão deixando infeliz ou se existe outro motivo. Caso o motivo seja o ambiente de trabalho, gestão ou motivos parecidos, isso deve ser conversado junto ao responsável para tentar modificar algo. Caso contrário, o profissional deve sim buscar uma nova oportunidade, procurando sempre o que vai atender às suas expectativas profissionais e pessoais.

Luciana Tegon: Esse é um fator que conta muito, se não o principal. Vejo pessoas que aceitam até ganhar menos para “demitirem-se” do chefe. Muitas vezes o problema não é a empresa e sim o gestor, aí não tem jeito, só recolocando-se mesmo.

Plano de carreira
Eduardo Ferraz
: Isso também deve ser levado em conta. Se o clima no atual emprego é bom, o chefe é justo e há uma chance real de ser promovido em no máximo dois anos, apenas um aumento de 30% prometido pelo novo empregador passa a não valer tanto a pena, pois uma promoção costuma gerar um aumento de 20% em média.

Caio Infante: Ter possibilidade de crescer é fundamental, entretanto, dar um passo maior que as pernas também não compensa, às vezes, receber uma proposta para um cargo mais alto em outro lugar parece muito interessante, mas pode se tornar um pesadelo se o profissional não tem experiência suficiente para assumir.

Janaína Andrade: Caso a empresa tenha apresentado plano de carreira, o profissional deverá levar em consideração, principalmente se o fato dele buscar uma nova oportunidade, estiver relacionado à falta de crescimento profissional na empresa atual. Diminuir a sua remuneração, inclusive, é válido se existir realmente a possibilidade de ascensão no novo emprego, caso isso tenha sido sinalizado pelo novo empregador no momento das negociações.

Luciana Tegon: Promessas não cumpridas geram frustração e incapacidade de reter talentos na empresa. O mais prudente é fazer a atração dos candidatos baseando-se na estrutura da empresa e garantindo a meritocracia, onde os funcionários são sempre considerados para processos seletivos de cargos maiores antes da abertura de recrutamento externo. E meritocracia é algo delicado de ser implantado, pois há casos em que a participação do funcionário em processos internos depende da aprovação do gestor, e há gestores que literalmente “travam” os funcionários na área, o que também acarreta na perda do talento para o mercado.

Idade
Eduardo Ferraz:
 Os mais jovens ainda estão aprendendo e mudar duas ou três vezes de emprego em 10 anos na maioria das vezes é útil. Acima de 35 anos o risco é maior, pois muitas mudanças acabam “queimando” o currículo.

Caio Infante: Independente da idade, cada um tem suas responsabilidades. Olhar os riscos é importante – verifique se você se sente seguro para mudar e que garantias o novo emprego te oferece.

Janaína Andrade: Depende. Caso o profissional queira mudar de emprego, mas não de área, a idade não interfere muito. Caso o profissional queira mudar de emprego e de área de atuação, provavelmente ele sentirá mais dificuldade, principalmente por causa do mercado de trabalho atual. Dessa maneira, melhor o profissional pensar e refletir, para ver se existe realmente a necessidade de mudar da empresa.

Luciana Tegon: Em geral, os mais jovens têm mais mobilidade profissional, pois estão construindo sua carreira e os passos são dados mais rapidamente. Os sêniores devem avaliar com mais cautela as oportunidades de recolocação a partir dos 40 anos, já que infelizmente a prática nas empresas é limitar a contratação de pessoas com mais de 50 anos.

Ambiente de trabalho atual
Eduardo Ferraz:
 Pesa bastante. Ambientes “tóxicos”, com muita fofoca ou cultura em que a meritocracia não seja valorizada induzem os mais qualificados a mudar de emprego.

Caio Infante: Deve pesar, mas também é importante entender o porquê de o ambiente de trabalho estar ruim e se há alguma solução simples para melhorá-lo.

Janaína Andrade: Não existe nada pior do que um ambiente de trabalho competitivo, onde você não consiga confiar em ninguém ou exercer um trabalho em equipe. Caso não exista confiança, dificilmente existirá trabalho em equipe. Profissionais devem pesar sobre o ambiente de trabalho, visto que, hoje em dia passamos mais tempo no trabalho do que em casa. Para exercer um bom trabalho é fundamental que o profissional se sinta bem em seu trabalho, que seja um local tranquilo, que lhe proporcione estabilidade, segurança e tranquilidade para desempenhar suas tarefas.

Luciana Tegon: Considerando que passamos mais tempo no trabalho do que em casa, sem dúvida, um bom ambiente de trabalho onde haja companheirismo e ética é um dos fatores de retenção de funcionário em uma empresa. Frequentemente são aplicadas pesquisas de clima organizacional como instrumento de medição do ambiente e levantamento de necessidades que devem ser tratadas na organização. Uma empresa é um “organismo vivo”, que tem sua personalidade, sua cultura e seus valores, e a identificação dos funcionários com tudo isso é essencial para relações de trabalho duradouras.

Problemas no relacionamento com a chefia
Eduardo Ferraz: 
Chefes medíocres, centralizadores ou grosseiros costumam gerar baixa produtividade e insatisfação geral. Se não houver oportunidades em outros departamentos na mesma empresa, deve-se pensar seriamente em mudar de emprego.

Caio Infante: Isso envolve a questão de ser infeliz no trabalho. Se existe problema de relacionamento há tempos no seu ambiente de trabalho e não parece ter solução, sair pode ser uma boa opção. Dependendo do caso, em algumas situações o profissional está na empresa certa, mas no departamento ou projeto errado. Isso é algo que merece reflexão, se for sair para continuar em algo que não agrada não adianta em nada.

Janaína Andrade: O mais importante para garantir uma boa performance do profissional contratado é ele sentir-se bem na empresa em que atua. Caso a relação com a chefia já esteja desgastada e o respeito já não exista mais entre as partes, melhor partir para uma nova oportunidade. Por outro lado, se você gostar da empresa em que atua e ainda sentir que pode obter realização profissional e pessoal, vale a pena conversar com outras pessoas, com o intuito de validar a possibilidade de alterar de área, equipe ou gestor.

Luciana Tegon: Muitas vezes o funcionário pede demissão do “chefe” e não da empresa. Liderar é uma habilidade que infelizmente não existe em todos os seres humanos em virtude do perfil comportamental de cada um. Por mais que a liderança seja algo que possa de alguma forma ser desenvolvida, há pessoas que nunca serão bons lideres a ponto de desestimular alguém a permanecer na equipe. A liderança autêntica é algo que motiva naturalmente os liderados, seja pela senioridade do conhecimento, pela admiração no trato com a equipe, pela forma de motivar e desenvolver o time. Onde tais características não existem, fatalmente haverá rotatividade elevada.

Atribuições do cargo
Eduardo Ferraz: 
O candidato certamente deve comparar o que ele faz no emprego atual e o que ele fará no novo. Os desafios e oportunidades de crescimento têm que valer muito a pena.

Caio Infante: Se imaginar na proposta recebida é fundamental. Se nem por pensamento a vaga não parecer algo empolgante, já é motivo para questionar.

Janaína Andrade: É complicado, em um processo seletivo, o candidato se vender de modo que diga o que faz no emprego atual e o que fará no novo emprego, pois ele ainda não conhece a empresa, a dinâmica de trabalho e os processos. Lembrando que, por ainda não conhecer, o modelo de trabalho da nova empresa pode ser igual a sua empresa atual, podendo ser reprovado por ter perspectivas diferentes das oferecidas pelo novo contratante.

Luciana Tegon: Conhecer e entender bem quais serão suas atribuições no novo emprego é essencial para avaliar se está apto para a nova posição. Todos somos avaliados por resultados, assim, não estar habilitado para as novas responsabilidades e mesmo assim assumi-las é muito perigoso. Por outro lado, há também que se avaliar se haverá um esvaziamento ou elevação de responsabilidades no novo emprego e como você lidará com isso. O salário compensa? O cargo é maior? A empresa é uma multinacional? Tudo tem que ser pesado.

Viagens nacionais e internacionais
Luciana Tegon:
 Vivendo em um mundo globalizado, são frequentes as posições onde há necessidade de viajar a trabalho tanto no Brasil como no exterior. Esse é um ponto a ser avaliado no que se refere à frequência dessas viagens e no tempo que estará ausente de casa, especialmente para um profissional casado e que tenha família. Viagens frequentes podem causar impacto na vida pessoal do funcionário, não sendo raro vermos separações motivadas pela frequente distância entre o casal.

 

http://www.trabalhando.com/conteudo/noticia/21888/veja-10-fatores-a-serem-avaliados-ao-receber-proposta-de-emprego.html