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Cecília Ribeiro tem um currículo invejável. Aos 28 anos, a gerente de marketing da Whirlpool é responsável por ter criado o maior projeto já realizado por um trainee dentro da empresa no Brasil – a B. blend, uma única máquina que, a partir de cápsulas, oferece dez categorias de bebidas, incluindo refrigerantes e energético.

Quando entrou na companhia em 2010, Cecília recebeu o desafio de buscar novas oportunidades de crescimento em uma área chamada Negócio Água, que reúne os purificadores da Brastemp e da Consul. Após uma série de pesquisas e estudos, Cecília decidiu investir no segmento de águas diferenciadas e daí surgiu a ideia das cápsulas e da máquina.

Para colocar o projeto em prática, Cecília teve de enfrentar algumas dificuldades e desafios – ela precisou acrescentar na agenda de dezenas de executivos um projeto novo e confidencial. “A minha maior dificuldade foi influenciar as pessoas. Quando você entra como trainee, muitas portas que se abrem, mas, ao mesmo tempo, o projeto é novo e, no meu caso, sigiloso. Eu tive que conseguir influenciar áreas diferentes e pessoas diferentes para conseguir construir um projeto que não estava, a princípio, dentro das prioridades”, afirma.

Bem antes disso, Cecília já se preparava para chegar lá. Formada em administração de empresas pelo Ibmec, a jovem fez intercambio na Itália durante seis meses. Antes, estudou na Associação Escola Graduada de São Paulo, chamada Escola Americana. Aos 24 anos, recém-formada, inscreveu-se em três processos de trainee. “Eu sabia que aquela era a melhor maneira de entrar em uma grande companhia. Entendia que esse tipo de processo ia me dar uma visão global da empresa. Na Whirlpool, por exemplo, você passa três meses visitando cada área e consegue saber como elas se interconectam”.

Agora, a Whirlpool e outras várias grandes empresas do país estão em busca de novas Cecílias.

Por que trainee?
Vale lembrar que há uma diferença enorme entre o propósito dos programas de estágio e de trainee. Segundo Joana Rudiger, gerente de talentos da Unilever, que tem um programa de trainees no Brasil desde 1964, o objetivo dessas vagas é desenvolver líderes para o futuro. Ou seja, espera-se que além de profissionais competentes, os trainees tornem-se gestores. Na Unilever, por exemplo, metade das pessoas que ocupam os cargos no nível mais alto da organização são ex-trainees.

Fernando Yunes, vice-presidente de Novos Negócios da Whirlpool Latin America, tem uma opinião muito parecida. “O nosso olho durante o processo é para buscar pessoas que vão ser a futura liderança da empresa – por isso é um processo tão rígido e concorrido”.

Assim, ao ser selecionado para um programa de trainee, não espere que te peguem pela mão e mostrem qual é o próximo passo. “Você tem que dar mais respostas do que fazer perguntas”, diz Andreza Graner, trainee na área de marketing da Unilever. “Pode ser desconfortável no começo lidar com homens experientes de 50 anos que conhecem muito mais sobre o mercado e a empresa que você. Mas você precisa encontrar um jeito de fazer essas pessoas estarem ao seu lado”, conta.

Diante de tantas vagas a serem preenchidas, Época NEGÓCIOS reuniu algumas dicas sobre  como se comportar e se preparar para um processo de trainee, além de ser um bom profissional.

A empresa combina com você?
Antes mesmo de se inscrever, pesquise sobre a companhia – ela não te fará feliz apenas por ser uma multinacional ou por apresentar um balanço saudável. “A empresa está te entrevistando, mas você também tem que conhecê-la. É preciso garantir que você tenha aderência aos valores e à cultura da companhia. Você precisa estar feliz onde vai trabalhar, porque só assim você vai conseguir maximizar a sua natureza e realmente entregar resultados extraordinários”, afirma Cecília, gerente de marketing da Whirlpool. Ter a consciência de que a empresa tem o seu perfil também pode te ajudar no processo seletivo. “É importante ver o quanto o candidato conhece nosso mundo, pois isso mostra que ele já escolheu a empresa”, diz Joana, gerente de talentos da Unilever.

Escolha poucos processos
Eduardo Ferraz, consultor de gestão de pessoas, autor do livro Seja a Pessoa Certa no Lugar Certo, diz que se inscrever em poucos processos é uma dica valiosa para quem quer ser um trainee. Isso porque algumas seleções chegam a ter até oito etapas. “O investimento de tempo, energia e auto-estima que se faz é enorme. Além disso, a pessoa tem que estudar – ela tem que ler no mínimo cinco reportagens da Ambev e ver se é o tipo de empresa que ela está querendo trabalhar. Meritocracia é uma tremenda pressão por resultados, além de uma competição feroz. Quem tem esse espírito, inscreva-se e tente passar”.

Inglês é pré-requisito
Cecília afirma ter feito diversas reuniões com times diferentes, desde a engenharia até a logística. E que, a cada três meses, tinha que apresentar o projeto, em inglês, para companhia globalmente. Ser fluente no inglês, na maioria dos processos, vai muito além da fase de seleção e é, sim, um pré-requisito. “As principais líderes de mercado são, na maioria dos casos, multinacionais, então, o inglês é necessário”, afirma Cecília.

Por outro lado, algumas empresas, como a Unilever, estão diminuindo cada vez mais o número dos chamados “filtros cegos” – os pré-requisitos que excluem o candidato do processo antes de dinâmicas e entrevistas. Nesse caso, a lógica é atrair pessoas que não tiveram oportunidade de aprender uma língua estrangeira ou fazer intercâmbio, mas que podem oferecer outras qualidades como profissionais.

Prepare-se, mas não tanto
Para conquistar os recrutadores, não deixe perguntas sem respostas, mas também não pareça um robô. Estude, pois é importante saber o que responder na hora das perguntas básicas, mas não minta ou treine palavra por palavra. “As perguntas mais comuns vão aparecer em 100% dos casos e é importante treinar a coerência. O que você acha da nossa empresa, por que você quer trabalhar na nossa companhia, me dá um motivo para te contratar. Essas perguntas vão aparecer sempre. Só que a resposta, se for muito ensaiada, fica artificial. Se parecer discurso decorado, a pessoa está fora”, afirma Ferraz.

Seja coerente e verdadeiro
Mas é claro que só se preparar para as perguntas básicas não garantirá que você será contratado. Perguntas absurdas podem surgir no meio do caminho. A principal dica para as provas feitas em casa e para as dinâmicas, de acordo com Ferraz, é: “não minta”. O online tem que ser totalmente coerente com o offline. “O que você escrever no currículo, no LinkedIn e no Facebook tem que ser absolutamente realista, de acordo com aquilo que você faz, pensa e é. Nas provas online, a empresa quer saber se o que está escrito no currículo é verdadeiro, se há coerência com aquilo que o candidato diz”.

Conheça (de verdade) os seus pontos fortes
Apenas dizer que você é bom, é fácil – prepare-se para ter que explicar tudo o que afirmar. Se você disser que é ótimo para trabalhar em equipe, prepare-se para responder coisas do tipo: conte três situações em que você precisou lidar com pessoas. “Eu sabia que tinha três pontos fortes: eu tinha feito a Escola Americana, a Ibmec e tinha ganhado um concurso de empreendedorismo na faculdade”, diz Cecília. Além de olhar para o currículo, fale de suas habilidades do dia a dia. Uma dica: ponto forte é aquilo que você faz naturalmente, sem quase nenhum esforço.

Experiência não é só currículo
Ter feito um intercâmbio é ótimo e cursar uma faculdade top de linha também. Mas as empresas não buscam só isso. “Não desvalorize a sua experiência. Você teve uma infância humilde e precisou cuidar dos irmãos enquanto sua mãe trabalhava? Conte”, diz Joana, da Unilever.

Na dinâmica, foco na comunicação
A parte comportamental é fundamental. “Não adianta ser uma pessoa que só vai ser brilhante, mas brilhante trabalhando de forma individual, porque não consegue mobilizar os outros, não consegue vender as suas ideias, não consegue agregar um grupo na direção do seu sonho. Ambição, vontade de crescer, vontade de fazer a diferença – e fazer a diferença para si próprio, para o mundo e para a empresa são fundamentais”, afirma Fernando Yunes, da Whirlpool.

Entrou? Arregace as mangas
Depois de passar no processo, nem tudo terminou. De acordo com o consultor Ferraz, o trainee tem apenas seis meses para mostrar a que veio. “Se ele passar seis meses com a ideia de que entrou na empresa para aprender e para analisar o que acontece lá dentro, ele está lascado. A pessoa tem que entrar trabalhando. Muitos programas deixam o profissional dois meses em cada setor. Se o candidato ficar no setor de contabilidade e não entender nada de contabilidade, vai ajudar o cara a carregar papel, vai ajudar o cara a fazer conta, vai tirar uma cópia, vai ajudar o cara a fazer planejamento. A atitude da pessoa que entrou é mais importante do que qualquer coisa, mais até do que resultado”.

http://epocanegocios.globo.com/Inspiracao/Carreira/noticia/2014/09/como-se-destacar-no-processo-de-selecao-de-trainees.html