Você sabia que as mulheres recebem até 71% do salário dos homens? Para alguns especialistas, isso ocorre porque o histórico delas no mercado de trabalho é recente. Já outros acreditam que são as responsabilidades genuinamente femininas que afetam sua carreira.
Por Andressa Marques
Segundo o relatório “Igualdade de gêneros e desenvolvimento 2012”, apresentado pelo Banco Mundial, se as mulheres tivessem as mesmas oportunidades que os homens no mercado de trabalho, a produtividade no mundo poderia aumentar de 3% a 25%.
O consultor de gestão de pessoas e estudioso em neurociência comportamental, Eduardo Ferraz avalia que os números refletem a realidade vivida por inúmeras mulheres, em quase todos os países do mundo. Ele é incisivo em afirmar que se as mulheres se dedicassem somente à carreira, a produtividade aumentaria de fato. A fórmula é simples: mais gente trabalhando representa mais consumo e aumento do Produto Interno Bruto dos países.
Contudo, segundo ele, essa realidade é ainda distante e não se pode ignorar o fato de que as mulheres são as genitoras e, apesar de um crescimento na participação no mercado de trabalho, não conseguem se distanciar das tarefas femininas. A exemplo, ser mãe, acompanhar diretamente a educação dos filhos, gerir as atividades dentro de um lar, administrar o relacionamento, cuidar da aparência física, e estar sempre bem humorada, são cobranças e responsabilidades que fazem parte da realidade social delas.
Diferenças
Ferraz também avalia outro ponto importante nas relações de trabalho: a diferença salarial entre homens e mulheres. Segundo o consultor as empresas têm basicamente quatro moedas para oferecer aos seus funcionários: dinheiro, segurança/conforto, status e aprendizado.
O dinheiro está relacionado ao salário, a moeda segurança e/ou conforto tem relação com a estabilidade assim como bem estar físico, além de flexibilidade no que se refere a horários e demandas. Já a moeda aprendizado é todo conhecimento que a empresa proporciona por meio de treinamentos e, finalmente, o reconhecimento ou status reflete a maneira com que empresa proporciona aprovação social ao indivíduo como promoções.
“Quem gosta mais de dinheiro, inconscientemente deixará em segundo plano as outras moedas, abrindo mão principalmente de estabilidade e, portanto, tempo para dedicar à família. Há mais homens ganhando mais e em cargos de chefia, pois eles culturalmente priorizam a carreira e colocam a família em segundo plano. As mulheres, em sua maioria, priorizam trabalhos que lhes proporcionem mais segurança do que dinheiro. Não há uma opção melhor que a outra, apenas consequências e tudo tem seu preço”, assegura.
Ferraz enfatiza que se a mulher quer ser profissional e não abre mão de ter uma família e filhos, certamente, vai escolher a moeda de troca que lhe proporcione mais segurança e, principalmente, flexibilidade de horários para que consiga reger as tarefas do trabalho, acompanhar a educação dos filhos, delegar as obrigações de uma colaboradora em seu lar e ainda, sobrar tempo pata manter-se bonita, atraente e magra.
E assim, muitas mulheres implicitamente aceitam ganhar menos em troca de uma carreira que lhe dê mais segurança e flexibilidade para suas múltiplas jornadas. Ferraz revela que já presenciou vários casos em que mulheres rejeitam uma promoção e a possibilidade de crescimento dentro de empresas, porque a prioridade é a educação e acompanhamento do desenvolvimento dos filhos. “Pouquíssimos homens aguentariam a carga que a maioria das mulheres suporta. É por isso que muitas mulheres aceitam ganhar menos em troca de uma carreira que lhe dê mais segurança”, assegura.
No mercado
Segundo o estudo “Mulher no mercado de trabalho: perguntas e respostas”, divulgado recentemente pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o rendimento das mulheres continua inferior ao dos homens. Em 2011, elas recebiam, em média, 72,3% do salário masculino, proporção que se mantém inalterada desde 2009.
A professora de Gestão de Recursos Humanos, da Faculdade Anhanguera de Belo Horizonte, Renata Cristina Rocha enfatiza que as mulheres estão no mercado de trabalho desde sempre, só que, só recentemente elas estão em cargos publicamente reconhecidos e participando da economia. “Desde a década de 1970, verificou-se o início da contribuição feminina na economia. No Brasil, as mulheres são 41% da força de trabalho, mas ocupam somente 24% dos cargos de gerência. O balanço anual da Gazeta Mercantil revela que a parcela de mulheres nos cargos executivos das 300 maiores empresas brasileiras subiu de 8%, em 1990, para 13%, em 2000. No geral, entretanto, as mulheres brasileiras recebem, em média, o correspondente a 71% do salário dos homens”, comenta.
Renata acredita que “Estamos em uma guerra”, onde quem apresentar um desempenho melhor vencerá. “Se reforçarmos que a mulher é melhor em um ponto ou em outro, estamos também reforçando a competição, o machismo e a discriminação. Essa situação é como a mudança de um comportamento, no início devemos nos ocupar com ele até que ele vire automático”, enfatiza.
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